terça-feira, 8 de abril de 2008

Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos

Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida – como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos;
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

Maria do Rosário Pedreira

3 comentários:

  1. Que engraçado!

    Este poema da Maria do Rosário lembra-me um conto(ou talvez seja uma poesia em forma de prosa) que escrevi sobre a partida de Eneias. Ou melhor, o que eu escrevi era sobre o despertar de Dido que, ainda não sabendo da partida do amante, o achava estranhamente ausente, profetizando a sua solidão na escuridão do quarto e, mais precisamente, no leito abandonado.

    Obrigada,Clio, por me dares a conhecer... gosto muito dos 3 últimos versos...

    Talvez ainda possa melhorar a minha história...

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