quinta-feira, 10 de abril de 2008

Bebido o Luar

Carl Wagner, Ao Luar, 1820


Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.


Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

  1. Andas muito romântica, Clio...

    Prefiro os versos da Maria do Rosário, embora também goste da Sophia...

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  2. Bonito poema, que me fez lembrar uns outros versos da Sophia, que li há muito tempo, sobre um "eu" prometido à natureza selvagem dos campos e dela afastado no meio de uma cidade qualquer.

    Beijinhos.

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  3. Pois ando, Ariadne... ;)

    Hera, lembras-te do título ou do primeiro verso desse poema? Gostei da intertextualidade que fizeste...

    Não sou poeta e isto que se segue não vai ficar poeticamente lindo... Mas paciência.

    Porquê o amor se não o podemos viver?
    Porque é o amor que nos faz viver.

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  4. Querida Clio,

    esse poema devo ter lido nos tempos do liceu. Não me lembro do título, mas, se o encontrar algures, mostro-te qual é, com todo o gosto.

    A propósito de "ser poeta". Porquê tantos preconceitos, na língua portuguesa de hoje, com a palavra "poetisa"? É muito estúpida a carga pejorativa que lhe tem sido atribuída.

    Beijos a todos.

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