domingo, 10 de dezembro de 2006

A noite de Natal

Em a noite de Natal
Alegram-se os pequenitos;
Pois sabem que o bom Jesus
Costuma dar-lhes bonitos.
Vão se deitar os lindinhos
Mas nem dormem de contentes
E somente às dez horas
Adormecem inocentes.
Perguntam logo à criada
Quando acorde de manhã
Se Jesus lhes não deu nada.
- Deu-lhes sim, muitos bonitos.
- Queremo-nos já levantar
Respondem os pequenitos.
25 de abril 1903.
SÁ-CARNEIRO, Mário de - Poemas completos. 2.ª ed. corrigida, Fernando Cabral Martins, ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001. 152 p. ISBN 972-37-0193-6

Gustave Doré - A Noite de Natal (século XIX)
Museu do Louvre, departamento das artes gráficas, Paris, França.

2 comentários:

  1. A linguagem não era a mesma, em vez de bonitos era a prenda no sapatinho, mas que saudades dos tempos de infância em que a curiosidade dos presentes era prolongada até à manhã de 25 de Dezembro. De manhã levantava-me apressada e lá estavam os meus presentes debaixo da árvore de Natal, ao lado do presépio enorme, com musgo, um rio feito em papel de alumínio e imensas figuras para além da Sagrada Família.
    As memórias de infância são um tesouro inestimável e, cada vez mais, recorro a elas para recuperar a verdadeira idade da inocência.
    Obrigada por este mimo, Hera.
    Oscula

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  2. A tradição na minha terra também consiste em abrir os presentes apenas no dia 25 de manhã. E quem os deixa debaixo da chaminé não é o Pai Natal, mas o Menino Jesus. Portanto, identifico, em muito, os Natais da minha infância com o do Natal do poema de Mário de Sá-Carneiro. É pena que a figura central desta época festiva seja em muitos casos relegada para segundo plano em favor da figura do Pai Natal. Gosto da expressão simpática e afável desta personagem, mas, na verdade, o que é o Natal? O que é que nele se festeja? Nem sempre paramos nesta época para pensar nisto, para pensar no verdadeiro sentido do dia 25 de Dezembro...

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