terça-feira, 14 de novembro de 2006

Nevoeiro

QUINTO / NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Valete, Frates.

Fim
de "Mensagem"

Fernando Pessoa

Hoje o cenário reporta-me a este poema, a vista do Tejo é nublada. O trabalho surte lânguido como a bruma que envolve a capital neste dia. E Fernado Pessoa sabe bem em qualquer altura.
Oscula

3 comentários:

  1. Que o sol continue a brilhar em nossos corações, apesar dos nevoeiros da vida.

    Be happy!

    ResponderEliminar
  2. De facto, o drama do Homem tem sido muitas vezes este:

    "Ninguém sabe que coisa quer.
    Ninguém conhece que alma tem,
    Nem o que é mal nem o que é bem.
    (Que ânsia distante perto chora?)
    Tudo é incerto e derradeiro.
    Tudo é disperso, nada é inteiro."

    Obrigada por me relembrares este poema.

    A chuva intensa traz inspiração. Hoje, ao ver rios minúsculos a descer pelas estradas, junto aos passeios, com muito cuidado, para não pôr o pé na poça, imaginei que por perto - se a chuva não parasse - haveria rãs e girinos junto à corrente e peixinhos que se tivessem soltado de um aquário, riacho ou tanque que transbordasse.

    ResponderEliminar
  3. Obrigada pelo raio de luz que a Clio fez despontar neste post nublado e pela bela imagem fluvial que a Hera nos suscitou. É isto que torna o blog um local tão agradável, há sempre coisas novas e fantásticas a notar e a partilhar com os outros.
    Oscula

    ResponderEliminar