Chocolate com pimenta

Quero partilhar convosco uma coisa deliciosa. Há dias experimentei um chocolate com pimenta. Se já conhecem, provavelmente devem ter gostado tanto como eu. Se não conhecem, provem, apreciem. Eu adoro picantes e pimentas e é saboroso e único aquele travo quente de pimenta que fica no palato depois de o chocolate se derreter. Hum... É um chocolate de leite que parece chocolate negro, porque é mais escuro, desfaz-se na ponta dos dedos, é macio e a subtileza da pimenta na doçura do cacau torna-o inesquecível.

Haverá muito a dizer sobre estes fascinantes aromas, mas ficam apenas estas palavras de alguém que também se interessa por estes sabores que tentam.

"Pimenta (Piper nigrum) - Declaro que traz alegria aos viúvos e alivia a impotência dos tímidos. Verá que é mencionada em quase todas as receitas deste livro, menos nas sobremesas. É melhor triturar os grãos com um triturador de acordo com as necessidades, não só para obter mais sabor, mas também para a cerimónia. Mas o pó que se compra em todos os sítios serve na mesma. Sabia que espirrar é um prazer erótico? O meu avô trazia sempre consigo uma caixinha dourada com pós de rapé e três lenços de cambraia bordados pelas freiras para os seus espirros. Ponha pimenta na almofada da próxima vez que apanhar o seu amor na cama e se não der resultado, pode sempre fazer amor sobre o tapete."

ALLENDE, Isabel. Afrodite - Histórias, Receitas e Outros Afrodisíacos, ilustrações de Robert Shekter, receitas de Panchita Llona, tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra, Lisboa, Círculo de Leitores, 1998; p. 79.

"Chocolate (Theobroma, que significa 'fruto dos deuses'). Quem é que disse que o chocolate não é um dos nutrientes fundamentais da dieta humana? Eu acho-o mais alimentício que os feijões e os brócolos, para mencionar alguns. Era a bebida sagrada dos Astecas, estava relacionado com a deusa da fertilidade Xochiquetzal e só era consumida pela nobreza. O cruel conquistador do México, Hernán Cortés, provou-o na corte do imperador Moctezuma e pouco depois introduziu-o em Espanha, onde a sua fama de afrodisíaco era tanta que as mulheres o bebiam às escondidas. Cria tanta dependência e é tão excitante como o café - contém o alcalóide theobromine - mas, além disso, é-lhe atribuído simbolismo nos ritos do cortejamento romântico. Que mulher não terá visto as suas defesas desaparecerem perante uma caixa de chocolates? O sabor, tão popular na Europa e na América, não é igualmente apreciado na Ásia ou África. Numa viagem ao interior da Índia não consegui encontrar chocolate e sofri um tormento de privação tão grande que compreendo agora o drama dos toxicodependentes."

Idem, ibidem; pp. 163 - 164.