sábado, 9 de agosto de 2008

Padre António Vieira, S.J. - 400 anos

Não sei se os leitores – minhas queridas leitoras, não estais esquecidas, como é óbvio – deste blog se lembram de quando aprenderam Pe. António Vieira na escola secundária...


Eu lembro-me muito bem, além de ter uma professora que não era muito fácil, mas que eu adorava e ainda hoje adoro, não tinha manual... Pode parecer um pouco estranho, mas não era... Eu tinha, já no 10º ano, falado com a minha professora de português dizendo que não queria comprar o manual porque preferia comprar os livros que íamos estudar: Castro de António Ferreira, foi um dos primeiros... A professora concordou e, a partir daí, deixei de ter livro de Português e passei a ter uma pequena biblioteca de leituras do programa.


Pois bem, o meu livrinho com os sermões do Pe. Vieira era verde, daquela colecção para jovens da Biblioteca Ulisseia, e tinha 4 sermões, não preciso bem quais, mas os dois do programa escolar de certeza: o da Sexagésima e o de Santo António aos Peixes.


Quando começámos a estudar comecei a ver as dificuldades de não ter manual: seleccionar no livro os excertos que estavam no manual, copiar as perguntas para o caderno/livro, fotocopiar uma ou outra ficha que tínhamos de responder, etc., mas, acima de tudo, era a satisfação de eu estudar por um verdadeiro LIVRO e de ler aquilo que os meus colegas não liam: as introduções muito interessantes da Maria Ema Tarracha, as notas de rodapé que nunca mais acabavam, o andar perdido à procura do excerto, a pequenez do livro que metia no bolso do kispo, etc.


Contudo, o mais importante de tudo, nestes sermões, foi a língua que eu descobri e o pensamento escorreito e límpido que Vieira tem. Na esquema mental do sermão não há lugar para espaços em branco, tudo se articula com tudo o que se escreve. O texto é um grande mapa, que, se pudesse ser visualizado, seria belíssimo...

É impressionante o domínio da língua, mas também o domínio da oratória. Toda a Retórica que está por trás é uma estrutura arquitectónica que aguenta qualquer edifício de 100 andares!


No passado mês de Junho, recebi uma boa prenda de uma classicista, que também está em Timor, que se relaciona com o Pe. António Vieira e que me parece uma muito boa sugestão de leitura para quem tem saudades de ler sermões e para quem a história de um amor é sempre bonita...

Em ano de Comemoração dos 400 anos do nascimento do Pe. António Vieira, aqui fica a sugestão.


Inês Pedrosa, A ETERNIDADE E O DESEJO.

Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2007.

ISBN 978-972-20-3495-1

3 comentários:

  1. Só atingi a verdadeira dimensão de Vieira na faculdade, com Maria Lucília Gonçalves Pires. Tornou-se numa figura ímpar para mim, amante da arte retórica, na qual Vieira é o nosso exemplo maior.
    Obrigada pela sugestão.

    Oscula

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  2. No meu caso, não pude deixar de achar os Sermões uma tremenda seca quando os estudei.

    Felizmente a Faculdade deu-me outra visão do meu horizonte! Penso que foi no 3º ano que comprei a obra e li os Sermões na íntegra. Adorei! Ainda bem que redescobri a maravilhosa retórica de Pe. António Vieira.

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  3. Um belo e sugestivo título: A Eternidade e o Desejo.

    E, quanto ao Pe. António Vieira, só posso dizer que adoro os seus Sermões.

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