sábado, 12 de maio de 2007

Leiam!...

«À Conta e Risco do Consumidor
(Uma Espécie de Desresponsabilização)

Este livro é sobre o fim do mundo e, como tal, envolve livros de receitas de emagrecimento, gurus de auto-ajuda, condenados de rastos pela sarjeta, editores sobrecarregados de trabalho, o colapso económico dos Estados Unidos da América e o cultivo generalizado de campos de alfafa. E julgo que, a certa altura, um dos personagens perde um dedo também. Esta é uma história de apocalipse: Apocalypse Nice. Fala de uma praga devastadora de felicidade humana, de uma epidemia de abraços quentes e fofos e de uma misteriosa caravana nas franjas de um deserto…

Podia ser pior. A primeira versão deste manuscrito acabava com uma invasão militar em grande escala dos E.U. por um exército de canadianos franceses. A sério. Mas o meu empedernido editor obrigou-me a cortar o enredo secundário na íntegra, o que nos traz à verdadeira questão: editores – um mal necessário ou uma necessidade maléfica? (redundância, não? – ed.)

Felicidade® começou há dois anos e meio. Principiou com um comentário fortuito de uma directora de comunicação, em resposta a uma observação que eu fizera – mais precisamente, a de que os autores de livros de auto-ajuda são sempre as pessoas mais neuróticas que se conhece numa viagem promocional. A pessoa em questão replicou, casualmente: «Digo-lhe uma coisa. Se alguém escrevesse um livro de auto-ajuda que realmente funcionasse, estávamos metidos num sarilho». Ela referia-se ao mundo editorial em geral, mas, enquanto o seu comentário se agitava no meu já atravancado cérebro, compreendi que as ramificações eram muito piores do que ela alguma vez imaginara. Se alguém escrevesse um livro de auto-ajuda que realmente funcionasse, um livro que curasse as nossas tristezas e eliminasse os nossos maus hábitos, os resultados seriam catastróficos.

Demorei mais dois anos a ajustar a ideia à sua forma actual. Mesmo enquanto encaixava outros compromissos e trabalhava em livros de referência e guias de hóquei, voltava constantemente a esta única ideia central, retrabalhando-a, reescrevendo-a, reconfigurando-a. A certa altura, os personagens do livro montaram um golpe de estado e tomaram inteiramente conta. Começaram a ditar-me o desenrolar da narrativa – o que equivale a dizer que não assumo qualquer responsabilidade por aquilo em que Edwin ou May ou qualquer dos outros se envolvem.

Este livro é uma obra de ficção. É completamente inventado (…)» Mas imperdível, digo-vos eu! Uma pequena e hilariante obra-prima contemporânea!
(Will Ferguson, Felicidade®, Porto, Asa, 2003 (1ª ed.))

3 comentários:

  1. Falando em livros de auto-ajuda e da questão da sua verdadeira eficácia, eu agora lembro-me de um episódio do "Sexo e a Cidade", em que a Charlotte York bem se escondia, quando, na livraria, foi folhear alguns livros de auto-ajuda, enquanto algumas pessoas que lá estavam a lê-los, choravam sobre lencinhos de papel, e ela saiu a correr daquela zona, porque não queria ser encontrada por ninguém na secção desses livros.

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  2. Um convite aliciante! Acho que vou consumir :)

    Nunca comprei um livro de auto-ajuda. Se realmente preciso dela, busco-a dentro de mim, busco-a na Fé, busco-a na Música...

    Bom fim-de-semana, amigos del cuore!

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  3. Mas se a auto-ajuda não ajuda, busco ajuda nos meus amigos do coração...

    :)

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