sexta-feira, 6 de abril de 2007

O vencido que venceu



Estátua de Fernando Pessoa, em frente ao café "A Brasileira", no Chiado, em Lisboa.


Já que, neste blogue, vivemos agora numa atmosfera pessoana, partilho convosco esta nota biográfica que li há uns dias.


"PESSOA, Fernando António Nogueira

[N. Lisboa, 1888 - m. Lisboa, 1935]


(...)


Nascido em Lisboa, em 13 de Junho de 1888, o ano de Os Maias de Eça e de A Menina Júlia de Strindberg, e falecido, 47 anos depois, em 30 de Novembro de 1935, a vida de Pessoa consistiu, por assim (pessoanamente) dizer, em não haver vida: se por vida se entender um conjunto de acontecimentos mais ou menos visíveis e mais ou menos ruidosos. Não casou, não teve filhos, não é mesmo certo que tenha praticado, com alguma convicção, aquele acto de que pode resultar o nascimento de filhos, não teve emprego certo, não teve, tirando Mário de Sá-Carneiro, amigos que se pudessem considerar 'íntimos', não concluiu um curso superior, não viajou, depois do seu regresso a Lisboa que se seguiu à estada (não por si determinada), de alguns anos, em Durban; a sua vida foi, vastamente, uma sucessão ininterrupta de não aconteceres, só dramaticamente entrecortados, uma vez, pelo suicídio de Sá-Carneiro, acontecido à sua revelia. Bebeu muito - alguma coisa havia de ter feito em excesso."


AA. VV., Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Volume III, organizado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, coordenação de Eugénio Lisboa, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1994; p. 367.

4 comentários:

  1. Sexta Feira Santa, 6 de Abril de 2007

    O excerto que apresentas, Hera, revela boa disposição, talvez a descontracção (não literária, óbvio) de quem escreve sentado num sofá com um caderno de apontamentos nos joelhos. Quem escreveu esta biografia? O próprio Eugénio Lisboa? I'm curious...

    Às vezes a vida pode não ser rica em acontecimentos, mas poderá sê-lo em emoções... vividas ou pensadas...

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  2. Querida Clio,

    o dicionário onde li este texto foi escrito por vários colaboradores, incluindo o próprio Eugénio Lisboa. Os vários textos que o constituem foram escritos por todos eles, claro, mas cada texto é de um só colaborador, não estando nenhum desses textos assinado por quem o escreveu.

    Escolhi este texto, pela atmosfera pessoana que vivemos aqui no blogue, mas também como ponto de reflexão para nós, jovens adultos a começar a nossa própria vida. É interessante ver como alguém que não atingiu determinadas metas que a sociedade nos impõe - casar, ter filhos, ter um grande emprego, ter um grande currículo, ter uma vida de sonho, fazer viagens de sonho, ter casas de sonho, ter uma vida fabulosa -, afinal venceu na vida e conquistou uma imortalidade que jamais estará ao alcance de muitos que casaram, tiveram filhos, muito dinheiro e uma vida fabulosa, segundo o concito da nossa sociedade materialista e preocupada com as aparências.

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  3. Errata:

    Onde se lê "concito", leia-se "conceito".

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  4. Obrigada pelas informações, Hera! Quanto ao teu comentário, tens toda a razão. Daí o último parágrafo do meu comentário anterior...

    Um grande beijo.

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