O vencido que venceu
Já que, neste blogue, vivemos agora numa atmosfera pessoana, partilho convosco esta nota biográfica que li há uns dias.
"PESSOA, Fernando António Nogueira
[N. Lisboa, 1888 - m. Lisboa, 1935]
(...)
Nascido em Lisboa, em 13 de Junho de 1888, o ano de Os Maias de Eça e de A Menina Júlia de Strindberg, e falecido, 47 anos depois, em 30 de Novembro de 1935, a vida de Pessoa consistiu, por assim (pessoanamente) dizer, em não haver vida: se por vida se entender um conjunto de acontecimentos mais ou menos visíveis e mais ou menos ruidosos. Não casou, não teve filhos, não é mesmo certo que tenha praticado, com alguma convicção, aquele acto de que pode resultar o nascimento de filhos, não teve emprego certo, não teve, tirando Mário de Sá-Carneiro, amigos que se pudessem considerar 'íntimos', não concluiu um curso superior, não viajou, depois do seu regresso a Lisboa que se seguiu à estada (não por si determinada), de alguns anos, em Durban; a sua vida foi, vastamente, uma sucessão ininterrupta de não aconteceres, só dramaticamente entrecortados, uma vez, pelo suicídio de Sá-Carneiro, acontecido à sua revelia. Bebeu muito - alguma coisa havia de ter feito em excesso."
AA. VV., Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Volume III, organizado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, coordenação de Eugénio Lisboa, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1994; p. 367.
Sexta Feira Santa, 6 de Abril de 2007
ResponderEliminarO excerto que apresentas, Hera, revela boa disposição, talvez a descontracção (não literária, óbvio) de quem escreve sentado num sofá com um caderno de apontamentos nos joelhos. Quem escreveu esta biografia? O próprio Eugénio Lisboa? I'm curious...
Às vezes a vida pode não ser rica em acontecimentos, mas poderá sê-lo em emoções... vividas ou pensadas...
Querida Clio,
ResponderEliminaro dicionário onde li este texto foi escrito por vários colaboradores, incluindo o próprio Eugénio Lisboa. Os vários textos que o constituem foram escritos por todos eles, claro, mas cada texto é de um só colaborador, não estando nenhum desses textos assinado por quem o escreveu.
Escolhi este texto, pela atmosfera pessoana que vivemos aqui no blogue, mas também como ponto de reflexão para nós, jovens adultos a começar a nossa própria vida. É interessante ver como alguém que não atingiu determinadas metas que a sociedade nos impõe - casar, ter filhos, ter um grande emprego, ter um grande currículo, ter uma vida de sonho, fazer viagens de sonho, ter casas de sonho, ter uma vida fabulosa -, afinal venceu na vida e conquistou uma imortalidade que jamais estará ao alcance de muitos que casaram, tiveram filhos, muito dinheiro e uma vida fabulosa, segundo o concito da nossa sociedade materialista e preocupada com as aparências.
Errata:
ResponderEliminarOnde se lê "concito", leia-se "conceito".
Obrigada pelas informações, Hera! Quanto ao teu comentário, tens toda a razão. Daí o último parágrafo do meu comentário anterior...
ResponderEliminarUm grande beijo.