sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Matilde

Acho que depois da reportagem e do debate apresentados ontem pelo canal televisivo Sic, a palavra de ordem de hoje não pode deixar de ser "Matilde"!

(A quem não viu, que veja na Sic Online).

Sofrer um AVC aos 9 anos é daquelas coisas que, quando acontecem, nos lembram, como a vida é efémera e a divisória entre esta e a outra margem, ou outro patamar, como lhe quiserem chamar, é apenas uma ténue linha que facilmente se pode quebrar ou ultrapassar...

E a morte nunca é fácil de se entender, de se explicar... ainda mais quando abocanha um ser jovem, em toda a sua plenitude, em toda a sua força física e mental. Antigamente, consolavamo-nos com a explicação «É a vontade de Deus, que quer lá mais um anjinho». Hoje em dia, as coisas evoluiram tanto que simplificar as explicações não nos chega. Já não é suficiente.

Mas Matilde, que teve um AVC aos 9 anos, não morreu como se esperava. Foi continuadamente reanimada pelos médicos e, penso que, até a sujeitaram a uma operação.

Tudo se fez para que o coração daquela pequena continuasse a bater, porque, com certeza, os médicos se compadeceram de uma alma que queria partir cedo demais.

No entanto, apesar de todos os esforços médicos, a pequena Matilde, ainda que viva, ficou em coma. As lesões cerebrais impedem-na de ter uma qualquer capacidade racional ou sensitiva. Apenas o coração trabalha, activando todo o sistema respiratório e providenciando todo o oxigénio de que o corpo precisa para se manter vivo. Ou seja, Matilde está naquilo a que se chama: Estado Vegetativo Profundo. E nele ainda se mantém até aos dias de hoje (já passaram 2 anos).

Matilde significa guerreira, que combate com energia!...

Mas nem sequer isso Matilde faz: os seus dias não são preenchidos de pequenas vitórias. Não há indícios, por mais mínimos que seja, que dêem a entender que Matilde irá recuperar do estado de inconsciência em que se encontra. De facto, as possibilidades de recuperação são praticamente nulas.

Perante este macabro cenário, uma pessoa se interroga. A pessoa que mais ama Matilde, a sua mãe, Alexandra.
Devido às suas dúvidas, Alexandra deu a cara e chamou a atenção para o que está a acontecer na sua própria casa, à sua própria filha, ao facto de, actualmente, se poder manter vivas pessoas cujo lugar já não pertence a este mundo...

Eu penso que a coragem e a lucidez, bem como a firmeza de carácter e espírito, de Alexandra é símbolo, apanágio até, de um Amor Maior pela filha. Ela pensa, diz e faz coisas que poucos teriam coragem até de sonhar. E só por isso merece todo o nosso respeito, toda a nossa atenção e reverência...

Se há uma guerreira nesta história é, sem dúvida, Alexandra, que disse que a filha não é a sua cruz, a sua cruz é não a ter; que pensa em como Matilde perdeu tudo e não naquilo que ela própria perdeu; que diz que é desumano uma mãe viver para ver a filha morrer...duas vezes!!!...

3 comentários:

  1. Tenho pena de não ter visto a reportagem ontem à noite. Estive a preparar testes. Mas irei ver na Sic Online.

    Beijinhos! Tou num meio de uma conferência... no messenger... com três belas amigas :) Mas a Cassandra já saiu. Agr tou com a Ariadne e a Hortênsia... Conhecem? :)

    Bjsss.

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  2. Não tenho aparecido muito. Este é um tema muito delicado, sou defensora da eutanásia quando a pessoa manifesta a sua vontade nesse sentido, mas neste caso, não há interpretação possível. Existe uma menina de 9 anos em estado vegetativo profundo e uma família a sofrer. O que fazer? Carregar a cruz? A vida supera sempre a ficção!

    Oscula

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  3. Morreu ontem a Matilde...
    Finalmente em paz!

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