Ricardo Reis

O homem não dispõe de qualquer espaço de liberdade. No «ergástulo da existência» que é a sua vida, ele está sujeito à presença «circunscrevente» dos deuses, por sua vez sujeitos ao destino. Tudo está trancado. E nada pode ser previsto, já que nada tem sentido. «Nada é devido ao mérito». Os deuses não fazem nada tendo em consideração a nossa existência, eles agem «por outro e divino / propósito casual». O mundo é regido pelos Números, cujo sistema nos escapa. portanto, não temos escolha, senão daquilo que nos é imposto. Mas é justamente a «livre» escolha do inevitável que vai criar a dignidade do homem. É um jogo, mas que transforma a relação entre o espírito e o mundo.
«Só esta liberdade nos concedem
Os deuses: submettermo-nos
Ao seu dominio por vontade nossa.
Mais vale assim fazermos
Porque só na ilusão da liberdade
A liberdade existe.»1
1
BRÉCHON, Robert, Estranho Estrangeiro. Uma Biografia de Fernando Pessoa, trad. de Maria Abreu e Pedro Tamen, Lisboa, Quetzal Editores, 1996, pp. 244-245.
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