Aborto: Mundo Perfeito versus Realidade
Na questão do Aborto a ser referendada no próximo Domingo temos dois opostos.
Num mundo perfeito, o Estado desempenhava um papel informador por excelência, melhorando a política educativa, melhorando as condições de vida dos portugueses, obrigando as pessoas a cumprirem a lei de uma forma justa e correcta. Neste mundo, as pessoas teriam um nível cultural superior, seriam pelo menos mais informados acerca das várias questões da sociedade e teriam uma opinião formada. As pessoas teriam um nível económico e social superior, não precisavam de ter medo da lei para a cumprirem, seriam mais responsáveis e não teriam necessidade de fazer abortos, não haveria problemas com a taxa de natalidade e com a renovação da população. A lei do aborto actual era suficiente, ou melhor, poderia acrescentar-se uma ou duas alíneas de forma a torná-la mais clara, e não existiria aborto clandestino. A questão do valor da vida humana não se colocava, a não ser nos casos previstos da lei, em que a mulher ou o casal teria uma opção livre, consoante as suas opiniões.
Na realidade, o Estado não tem informado o suficiente, não há uma política educativa adaptada às realidades do país e que contribua para uma evolução e esclarecimento das mentalidades, nem todos têm boas condições de vida, nem todos querem cumprir a lei. A maioria das pessoas não lêem, não estão devidamente informadas, muitas vezes não querem estar informadas, não têm um nível económico, social, cultural superior e esclarecido, não têm opiniões formadas, seguindo muitas vezes as opiniões dos outros, nomeadamente os líderes políticos e religiosos. Há pessoas irresponsáveis, que praticam o acto sexual sem terem o devido conhecimento dos métodos contraceptivos e sem os quererem usar, não reconhecem os seus erros, os seus actos, um acidente que possa ocorrer, querem viver e aproveitar ao máximo a vida sem preocupações nem responsabilidades. Existem abortos clandestinos, por várias questões, e a maioria das pessoas não querem ou não podem ter mais que um filho (este segundo aspecto é que é, na minha opinião, o verdadeiro responsável pela não renovação da população). Os médicos não ajudam as pessoas e não cumprem devidamente a lei, concedendo às pessoas os seus reais direitos consignados na legislação.
Isto leva a que existam os abortos clandestinos, realizados sem quaisquer condições. Alguns destes abortos serão consequência de actos irresponsáveis, outros nem por isso. Colocar todas as mulheres dentro do mesmo saco é o maior erro. Muitas das mulheres que abortam não têm outra solução, porque não têm o apoio dos familiares ou do parceiro, da sociedade e do Estado (cada caso é um caso e existem inúmeras razões, que não vou enumerar). Penso que estas mulheres não abortariam se tivessem esses apoios. Teremos então que pensar nessas mulheres, que não têm outra solução senão recorrer a um aborto clandestino sem condições, que deixa mazelas físicas, incluindo a esterilidade e a morte, além das mazelas psicológicas. Como a lei que existe não é cumprida e a sociedade e o Estado não lutam para criar condições e alternativas ao aborto clandestino, surge a necessidade do referendo e a oportunidade de mudança. Temos que ter em conta igualmente que os políticos podem não ter coragem para legislar num assunto tão melindroso, que toca em questões morais, religiosas, éticas, … e optar por dar a escolher ao povo, que deve de facto ter a última palavra. O povo tem que ser responsável e exercer os seus deveres cívicos quando necessário e quando os governantes nos dão essa oportunidade. Claro que está muita coisa mal neste país, mas temos que lutar activamente para o melhorar. Ficar sentado em casa a olhar para ontem e a comer pipocas não muda nada.
A mudança, que pode ocorrer se o sim ganhar, pode ser boa ou má, não o sabemos. Faltou, na minha opinião, dar a oportunidade de os portugueses lerem a proposta de lei e terem um real conhecimento daquilo que o sim representa, se uma despenalização ou uma liberalização e em que condições serão efectuados os abortos legais. Sabemos apenas que a manutenção da lei não resolve o problema do aborto clandestino, nem obriga a que o sistema de saúde cumpra a lei existente correctamente. Quem estiver contra o aborto pode lutar sempre pela vida e pela melhoria das condições de vida, que evita grande número de abortos. Por outro lado, não podemos obrigar uma mulher a ter um filho, porque um filho não amado e não querido pode tornar-se um delinquente ou os pais abusarem das crianças, batendo-lhes ou violando-os ou mesmo matando-os das piores formas possíveis. Queremos que eles nasçam para sofrerem e morrerem de uma forma ainda pior? Pior no sentido que podem morrer a serem espancados ou asfixiados. Existem inúmeras maneiras de matar, algumas são violentíssimas.
O problema do aborto clandestino é apenas a ponta do icebergue dos profundos problemas sociais do nosso país.
Publicado por Quíron no seu blog
Todo este discurso já conhecemos.
ResponderEliminarE não há argumento algum que me consiga convencer de que a morte pode ser uma solução. "não podemos obrigar uma mulher a ter um filho"... E esse filho? Quais os seus direitos? O direito da Vida? Sim, ele pode vir a ser muito infeliz. Mas infeliz sou eu e somos tantos neste mundo. Porém amamos a Vida!
O que mais me choca neste discurso publicado é defender-se que, como há pessoas que querem viver a vida sem pensar nas responsabilidades e consequências, nós temos de legalizar o aborto a pedido, sem uma justficação de peso, e obrigar o contribuinte a pagar e a esperar ainda mais tempo para ser atendido num hospital, porque há não sei quantas mulheres que têm de abortar com urgência até às 10 semanas!
ResponderEliminarIrresponsáveis haverá sempre e não é por isso que vamos legalizar as bebedeiras nas auto-estradas!