terça-feira, 7 de março de 2006


“Kazu passeava pelo parque todas as manhãs. Sempre que o fazia chamava a atenção do jardineiro para qualquer aspecto particular. Algumas das suas observações eram justificadas; outras eram-no menos, mas faziam parte da sua rotina quotidiana [de directora do restaurante Retiro] e contribuíam para o seu bom-humor; por isso, o velho e experiente jardineiro não ousava contradizê-la.
Kazu percorria o jardim; não sendo casada, encontrava nisso um perfeito prazer físico e uma ocasião para meditar em completa liberdade. Durante todo o dia, tagarelava, cantava: nunca estava só. Apesar de estar habituada a receber visitantes, acabava por ficar fatigada. O seu passeio matinal provava-lhe que o seu coração apaziguado já não estava perturbado pelo amor. «O amor já não atrapalha a minha existência.» Enquanto admirava a forma como os raios de um sol esplêndido, que passavam entre as árvores ainda mergulhadas na bruma, faziam realçar o verde do musgo que atapetava o seu caminho, Kazu sentia-se penetrada por esta verdade um pouco melancólica.
Estava desde há muito tempo afastada dos pensamentos do amor. A recordação do seu último amor já ia longe. «Tornei-me invulnerável a todos os perigos do amor», dizia ela.
Estes passeios matinais eram, para ela, um hino à tranquilidade do seu coração.


De novo aqui...

A minha actual leitura é um romance japonês, prenda de Natal trazida especialmente de Portugal, com embrulho da Fnac e tudo... Foi a única coisa que pedi a uma amiga que aí foi nas férias... Muito obrigado, Flávia, meu anginho de Timor...

O autor, Yukio Mishima, foi um japonês muito interessante... Podem ver mais algumas informações no artigo da diciopédia, que copiei como estava, logo não é da minha responsabilidade...
O livro chama-se "Depois do Banquete" (trad. a partir do francês por Inês Pedrosa, Lisboa: Relógio d’Água Editores, 1989. p.9) e trata de uma mulher com alguma experiência, proveniente de muitas dificuldades, que questiona o amor, apaixona-se, casa-se, fica sozinha casada, etc., mas tem sempre projectos para realizar, por isso, o amor não é tudo... e para a nossa geração, acho que cada vez é menos... Vamos continuar todos muitos sozinhos...

Com saudades, Narciso


Yukio Mishima
Escritor japonês, Kimitaka Hiraoka nasceu a 14 de Janeiro de 1925 na cidade de Tóquio. Filho de um funcionário público, foi educado pela avó paterna, criatura possessiva e preocupada.Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, foi declarado inapto para o serviço militar, e destacado pelas autoridades como operário fabril. Este acontecimento revelou-se preponderante no seu percurso, por acreditar que não teve oportunidade de dar a vida pela pátria, como muitos combatentes haviam feito. Mesmo as circunstâncias da sua morte estiveram essencialmente ligadas a este sentimento.Mudando o seu nome para Yukio Mishima, para ocultar as suas aspirações ao olhar do pai, inimigo figadal da literatura, publicou a sua primeira obra em 1944, com o título Hanasakari No Mori. Não passou de todo despercebida, já que valeu as recomendações de Kawabata Yasunari junto de publicações periódicas proeminentes.Após a derrota do Japão em 1945, Mishima matriculou-se no curso de Direito da Universidade de Tóquio. Trabalhou então como funcionário público durante um ano, até se ter dedicado inteiramente à escrita.Em 1949 publicou o seu primeiro romance de sucesso, Kamen No Kokuhaku. A obra, de carácter autobiográfico, lidava com a descoberta da homossexualidade do autor, com o ajustamento da sua personalidade ao convencionalismo social. Obcecado com a sua forma e tentando provar uma valentia que o destino ainda não confirmara, começou a praticar culturismo e artes marciais, tornando-se mestre de Karate e Kendo. Procurou assumir-se nos protagonistas das suas obras, chegando a posar para retratos fotográficos como um marinheiro afogado por um naufrágio, como em Gogo No Eiko (1963), ou um samurai matando-se pelo harakiri, o suicídio ritual japonês, como na obra Hagakure Nyumon (1967).Em 1954 publicou Shiosai, um dos seus trabalhos mais conhecidos. O romance contava a história dos amores proibidos entre um jovem pescador de nome Shinji, e a filha do chefe da aldeia onde ambos viviam. Pescadora de pérolas, a rapariga foi prometida a outro homem, mas a coragem de Shinji vai conquistar as boas graças do seu pai. Foi adaptado para o cinema por diversas vezes, a primeira em 1954 sob a direcção do realizador Senkichi Taniguchi, uma outra em 1985, pela mão de Tsugunobu Kotani.Embora tivesse adoptado o vestuário do mundo ocidental, Mishima era grande admirador das glórias passadas do Japão imperial, de cuja derrota nunca se conformou. Em 1968 conseguiu agrupar um pequeno exército de cerca de uma centena de jovens efectivos, dispostos a morrer pela restauração do Bushido, o código de honra dos guerreiros samurai.Liderou a sua milícia na tomada do quartel-general do exército japonês em Tóquio, na tentativa de devolver o seu país aos ideais nacionalistas do ante-guerra, mas perante o fracasso da sua investida, preferiu tirar a sua própria vida com uma espada, através do esviscerar ritual japonês, o seppuku. Instantes antes da sua morte, ocorrida a 25 de Novembro de 1970, gritou "Viva o Imperador!".No mesmo dia da sua morte, Mishima enviou à sua editora o manuscrito final de Tennin Gosui (1971), o último volume de uma tetralogia de nome "Hojo No Humi". Cada livro corresponde a uma reencarnação da mesma alma, que no primeiro, Haro No Yuki (1968), é um aristocrata, no segundo, Komba (1969), um fanático político da década de 30, em Akatsuki No Tera (1970) uma princesa tailandesa sobrevivendo à Segunda Guerra Mundial, e, por fim, no fatídico manuscrito, um jovem e maligno órfão vivendo nos anos 60.

5 comentários:

  1. Agora que lhe apanhou o jeito, não quer outra coisa!...

    Força aí nos posts...É assim mesmo! Há que mimar os amigos...

    Bjos, Med

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  2. hummm
    mais uma boa ideia!! ontem consegui que o comentário que fiz desaparecesse... sei lá como! é sempre óptimo ter notícias de quem está longe!!

    muitos jinhos

    helena

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  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  4. Mais uma grande sugestão no nosso blog. Acho que todos já sentimos algumas vezes o amor a atrapalhar a nossa existência... isto, quando o amor tem como significado "dor". Mas é o Amor, seja ele Filia, Eros ou Agape, que nos faz sentir vivos.

    Obrigada, Narciso, pelo teu post...!

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