quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

A Ilustre Casa de Ramires

Acabei a minha leitura d' A Ilustre Casa de Ramires, um entre tantos clássicos portugueses que não foram de leitura obrigatória no meu percurso escolar e que eu ainda não tinha tido oportunidade de ler. Esta obra de Eça de Queirós, publicada em 1900, é mais do que um romance de crítica a tipos sociais. Encontramos um autor com uma maturidade intelectual mais apurada do que em obras como O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio. Revela-se o optimismo do escritor, a esperança nos valores humanos. Além do mais, é uma obra sobre a arte de escrever. Na verdade, o protagonista, Gonçalo Mendes Ramires, também se torna ele próprio autor de uma novela, e, por várias vezes, quando não sente a inspiração a visitá-lo, se confronta com a árdua tarefa da escrita. Ao mesmo tempo que se sucedem episódios humilhantes, nada ilustres, da sua vida, Gonçalo redige uma novela histórica em que narra os feitos ilustres dos seus antepassados medievais. Entre as duas novelas – o presente e o passado – há correspondências, geralmente contrastes: a coragem dos avós contrapõe-se fortemente à cobardia do neto, com os compromissos mesquinhos a que o obriga a sua eleição para deputado.

Livraria de Gonçalo Ramires, Grav., A. desc. in Revista Moderna, Paris 1897, p. 327,
BN PP. 5071 A.
O exímio talento queirosiano nas descrições também se verifica nesta obra. Demarco, por exemplo, uma situação que é descrita tão meticulosamente nos seus aspectos mais repugnantes, que a sua leitura não se me afigurou nada dócil… Tendo em conta os que ainda não leram o romance, mais não vou dizer.

Parto agora para outro livro, que me ofereceram no Natal: A Extraordinária Viagem de Píteas, O Grego, um estudo de Barry Cunliffe.

Boas leituras!

Clio

3 comentários:

  1. Ainda me lembro de observar cuidadosamente esse livro na fnac do chiado (que saudades)...
    Observar como quem gosta muito... Adorei a capa e a qualidade grafica... depois has-de dizer-nos como foi a relacao... :)
    vai colocando uns posts com excertos...
    beijinhos

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  2. Deixem-me ter a honra de publicar um excertozinho desta obra genial referida pela Clio (obrigada pelo maravilhoso comentário), uma vez que já me assumi (recentemente) fã de Eça de Queirós e ando num frenesim de leituras das suas obras!

    Infelizmente não será fácil escolher um excerto, porque já li a obra há 2 anos. Terão, por isso, de me perdoar a táctica: não querendo deixar de referir algo, mas também não me lembrando exactamente das passagens que mais me marcaram, abrirei o livro e deixarei a Fortuna escolher...Oh, não...A Fortuna terá de esperar porque encontrei a descrição do sonho de Gonçalo...Muito bom!

    «...E então, através das pálpebras cerradas, no confuso cansaço de tantas tristezas revolvidas, Gonçalo percebeu, através da treva do quarto, destacando palidamente da treva, faces lentas que passavam...
    Sem temor, erguido sobre o travesseiro, gonçalo não duvidava da realidade maravilhosa! Sim! Eram os seus avós Ramires, os seus formidáveis avós históricos, que, das suas tumbas dispersas corriam, se juntavam na velha casa de Santa Ireneia nove vezes secular - e formavam em torno do seu leito, do leito em que ele nascera, como a assembleia majestosa da sua raça ressurgida. E até mesmo reconhecia alguns dos mais esforçados que, agora, com o repassar constante do poemeto do tio Duarte e o Videirinha gemendo fielmente o seu «fado», lhe andavam sempre na imaginação...»
    Medeia

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  3. Quanto às outras leituras da Clio...parecem-me interessantes...se quiseres, depois, expor o que achaste do livro mal o acabes de ler, estás à vontade...
    Medeia

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